24.10.08

Escrever para Ver IV: Da minha janela


®Paper_doll @ Porto www.lomohomes.com/paper_doll


Da minha janela o tempo pára. Pára. Suspende o tempo em 120mm. Da minha janela, a luz é perfeita e tu do outro lado do passeio, surpreendes-me com um número ousado de ilusionismo. Lanças pombas no ar, atiras confetis e dás cor à minha película. Da minha janela, o mundo parece origami.
®anita_

17.10.08

"Ver para Escrever III": Xanax


®JorgeColecttive @ Mexico - Veracruz, Xalapa com Lomo Holga

O desespero deixa cair a nódoa verde do vómito incontrolável. Tenho medo! Puseram-me sentada aqui. Puseram-me amarrada a esta cadeira de onde tento desesperadamente sair mas não consigo. Contorço-me. Mexo os pés de forma abrupta. Até me ficarem a doer. Não desgosto da dor, mas incomodam-me os sapatos que me deram. Vomito. Deram-me um comprimido. E depois outro, e mais outro. Esta roupa que trago não é minha e tudo aqui cheira a velho e a comprimidos. Toca a sineta. São horas de recolher.
®Anita

16.10.08

"Ver para Escrever II": Simone



®Simone Frignani, Italy com Lomo Kiev 35A


Vem, Simone. Apaga o cigarro, deixa a máquina na cómoda e vem. Deixa-me ser o ilustre convidado a abrir as portas escancaradas da tua manhã.
®Anita

15.10.08

Vezes

Há vezes, muitas vezes, daquelas pequeninas e sorrateiras, que pousam na minha janela enquanto almoço e me chamam lá para fora. Há vezes que me chamam, há vezes que me impelem, há vezes que te quero tocar sem disfarçar. Há vezes que se fazem de contas e acabam por se dividir noutras complicações e subtracções. Há vezes que se multiplicam e não dão resultados coerentes, só estranhos quocientes que ninguém sabe decifrar.
Há vezes, muitas vezes, que pousam na janela e que me somam os dias num conta sem fim e que de tanto somarem, dão erro por falta de espaço.
®Anita

CONTRA SALAZAR, de Fernando Pessoa



Está a chegar!

"Ver para Escrever I": Lo Ritual de lo Habitual


® Katya Leontyeva, St.Petersburg
Fonte: Lomo.Homes


8:00. Entro na casa-de-banho. Faço o ritual matinal habitual: não olho ao espelho, engano-me na escova de dentes, troco o gel pelo shampoo. Acordo já no banho com a água quase a transbordar para as 8:30. Atrasada. Como sempre. Nunca escolho uma roupa que me fica bem. Quero uma com maturidade mas chique urbana. Para que me olhem e pensem que sou uma tipa adulta com ar indie e rebelde. No comboio esqueço isso tudo. Nos ouvidos, mais uma tipa anti-folk diz-me o que quero ouvir. Cai o meu coração às 9:15 na Estação de S. Bento. Parte-se em mil pedaços como os azulejos gastos nas paredes velhas da estação. Venho buscá-lo mais tarde. Sigo para o outro lado do rio. Com menos sono, com menos coração, com mais ansiolíticos, mas sempre com a música a incomodar quem vai ao meu lado. E muito nevoeiro.
®Anita

14.10.08

"Ver para Escrever"

Decidi juntar as duas coisas que gosto mais de fazer na vida: escrever e lomografar.
Comecemos portanto, com o exercício. Será feito através do banco grátis de imagens da www.lomography.com, de onde será retirada uma foto aleatória. Dessa fotografia, escreverei histórias, poemas, simples frases, palavras soltas, não importa. O que importa é Ver para Escrever.

10.10.08

Da Caravana...


"Ptolomeu Hefestião resistia imutavelmente a todos os ataques dos homens e à fúria mais terrível dos elementos. Mas era incapaz de resistir ao suave toque de um asfódelo. Uma bela moral se poderia tirar facilmente daqui, mas não tenho tempo para isso. Bastará dizer que os morangos silvestres, sempre que possível, devem ser acompanhados com chantilly, pois trata-se de um ingrediente que introduz variedade e impede que esmoreça o apetite."

in Caravana, Rui Manuel Amaral. Ed- Angelus Novus

Plano




Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.

Nuno Júdice

1.10.08